20 fevereiro, 2008

Maçã


Tão absorta, estava depois do último sonho, que o olhar permaneceu vago por um bom tempo.
Fixo num ponto infinito do qual, esperava, se salvaria alguma ideia, algum projecto!
Acordou para uma maçã à sua frente.
Uma maçã vermelha com rajadas de amarelo, leve no seu perfume, orvalhada na sua tona.
De repente, assim, sem mais, entrou na maçã, tão calorosamente quanto a presumia, extraindo-lhe o silêncio e a luminosidade que lhe pareceram, naquele instante, a sua última escala de sofisticação reflectida nas suas mil pérolas de água reluzente.
Foi se fazendo maçã, avermelhando-se toda em gotinhas vermelhas.
Num zanzar de luzes, sentiu-se a própria macieza da casca. E tão macia ficou que de repente o susto. Então de volta, vaga, absorta, olhando novamente acordada aquela coisa vermelhusca à sua frente: a insuportável beleza de perfeição de cor sedosa a fustigar uma inveja que sentia brotar no desejo de uma trinca.
Mas, a tal, parecia incorruptível em sua beleza, coisa feita de um silêncio todo sussurros.
Sem se saber maçã, de repente amadureceu.
E, tocada pelo orvalho, rendida finalmente ao pincel, sem sofisticação alguma, devorou as pinceladas, numa tentativa de incorporar alguma beleza natural.

1 comentário:

gata louceira disse...

Perdi o contacto com o teu blogue e por isso perdi muito!!!
Quando agora consegui cá voltar fiquei extasiada com estas belezuras!!
Vou pôr-te no meu blogue.
Tenho pena de estar tão longe, senão iria para aí ter uma lições com essa MESTRA que tu és!
Jinhos